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Presidente da Colômbia quer esclarecer relação com o Pentágono

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August 5, 2009
Isabel Fleck
Carrera

A proximidade do Brasil com os governos de Barack Obama e de Álvaro Uribe transformou o país em peça fundamental no complicado tabuleiro que se instaurou na região diante de um novo acordo militar entre Washington e Bogotá. Ontem, o presidente colombiano, que se recusou a ir à Cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), no próximo dia 10, no Equador, confirmou a vinda a Brasília para uma reunião com o colega Luiz Inácio Lula da Silva depois de amanhã.

Durante o encontro, Uribe deverá explicar detalhes sobre as bases que serão usadas pelos norte-americanos em solo colombiano. As viagens ao Brasil do general James Jones, assessor de Segurança Nacional do governo Barack Obama, e de Douglas Fraser, chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA — agendadas antes mesmo do início da “crise” —, também se tornaram uma oportunidade para se questionar a ampliação da atuação de Washington na vizinhança. Uribe visitará, nos próximos dias, Chile, Peru e Argentina.

Com a visita de Uribe, o papel do governo brasileiro como interlocutor será confirmado: além de levar as preocupações dos países da região a representantes dos dois governos envolvidos, Lula deverá reverberar as explicações da Colômbia em Quito, na próxima semana.

Hoje, no entanto, o “sabatinado” será o general norte-americano James Jones, que tem encontros com o assessor especial para assuntos internacionais do governo brasileiro, Marco Aurélio Garcia, e com o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Amanhã, Jones se reúne com o chanceler Celso Amorim, que recebeu ontem em seu gabinete o embaixador americano, Clifford Sobel, e, na última semana, o chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, Douglas Fraser.

O que o governo brasileiro busca, após conversas com o Chile, a Venezuela e até a Espanha, é “tornar mais claro” o acordo que pode representar um investimento de Washington de até US$ 5 bilhões em 10 anos. As perguntas que ainda estão no ar são a real motivação de uma maior presença norte-americana na região, se as bases são de fato colombianas e se haverá aumento significativo de efetivo dos Estados Unidos por aqui.

Interesse

Para Larry Birns, especialista em segurança e diretor do Council on Hemispheric Affairs, o Brasil tem todo o direito de questionar o acordo, até por ser um dos mais “insultados” pela utilização das bases na Colômbia. “Na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha queria construir bases navais no México, e os EUA disseram que eles entrariam em guerra se isso acontecesse. Mas é exatamente o que eles estão fazendo agora”, afirma Birns. Ele acredita que, além de visar o monitoramento de países como Venezuela e Bolívia, Washington demonstraria interesse nos recursos abundantes do Brasil, como os energéticos. “Mas acho que é um grande erro do governo Obama, porque isso envenena a relação (entre os EUA e países da América do Sul), cria um constrangimento que não precisava”, destaca.

O colombiano Alfredo Rangel, diretor da Fundação Segurança e Democracia, por sua vez, sai em defesa do acordo entre os dois países. Segundo Rangel, que concorreu ao Senado na última eleição legislativa, pela coligação pró-Uribe, a cooperação com os EUA é “absolutamente indispensável para conter o narcotráfico”, já que a Colômbia não possui toda a tecnologia necessária para combater de forma efetiva a guerrilha. “Os vizinhos não têm nenhuma justificativa para ficarem preocupados. O tratado estipula que o acordo não poderá interferir nos interesses ou afetar terceiros países. As aeronaves americanas (que operarem nas bases), por exemplo, nem mesmo terão permissão para deixar o território colombiano”, ressalta.

EQUADOR CASSA LICENÇA DE EMISSORAS
O governo do Equador vai retirar a licença de algumas emissoras de rádio e de televisão que estavam funcionando irregularmente, de acordo com o presidente Rafael Correa. Uma auditoria já foi feita nos veículos e, segundo o chefe de Estado, em oito dias será elaborado um relatório técnico sobre as “gravíssimas irregularidades” encontradas. Nos últimos dias, Correa tem intensificado as críticas contra uma parcela da imprensa que ele considera contrária à revolução socialista implementada no país. O anúncio do presidente equatoriano ocorre dias depois de a Venezuela acabar com a concessão de 34 emissoras de rádio em todo o país.